sexta-feira, 25 de julho de 2014

Adélia Prado - Para o Zé

Para o Zé

Eu te amo, homem, hoje como toda vida quis e não sabia

eu que já amava de extremoso amor o peixe, a mala velha

o papel de seda e os riscos de bordado, onde tem o desenho cômico de um peixe 

— os lábios carnudos como os de uma negra.

Divago, quando o que quero é só dizer te amo.

Teço as curvas, as mistas e as quebradas, industriosa como abelha

alegrinha como florinha amarela, desejando as finuras, violoncelo, violino, menestrel

e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito pra escutar o que bate.

Eu te amo, homem, amo o teu coração, o que é, a carne de que é feito,

amo sua matéria, fauna e flora, seu poder de perecer,

as aparas de tuas unhas perdidas nas casas que habitamos, os fios de tua barba.

Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo pra ter saudade, me calo,

falo em latim pra requintar meu gosto.

"Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas o teu gado?

Onde repousas ao meio-dia, para que eu não ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros?"

Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama fica eterno.

Te amo com a memória, imperecível.

Te alinho junto das coisas que falam uma coisa só: Deus é amor.

Você me espicaça como o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece,

tira de mim o ar desnudo, me faz bonita de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,

me dá um filho, comida, enche minhas mãos.

Eu te amo, homem, exatamente como amo o que acontece quando escuto oboé.

Meu coração vai desdobrando os panos, se alargando aquecido, dando a volta ao mundo,

estalando os dedos pra pessoa e bicho.

Amo até a barata, quando descubro que assim te amo, o que não queria dizer amo também: o piolho.

Assim, te amo do modo mais natural, vero-romântico, homem meu, particular homem universal.

Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.

Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos, a luz na cabeceira,

o abajur de prata; como criada ama, vou te amar, o delicioso amor: com água tépida

toalha seca e sabonete cheiroso, me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles eu beijo.

Rubens Alves - Basta o essencial

Rubens Alves. " Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltavam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Já não tenho tempo para conversas intermináveis para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturas. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral ou semelhante bobagem, seja ela qual for. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de deus. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena. Basta o essencial!"

EU APRENDI..... WILLIAM SHASKEAPEARE

A Pipoca Que Somos - Rubem Alves

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Aprender a Conviver

Encontro com Rubem Alves

Mandalas

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